sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A viagem ultra-interior: diário de bordo (parte 1)

Ele deitou, fechou os olhos e relaxou, mas não dormiu. Não dormiu, porem sonhou acordado, e viajou para dentro de si...
Regressão 23-07-2014

 

 Ato I – O Deserto 

 

Era noite, e no céu a imensidão do universo. Suas estrelas e planetas cobriam tudo e todos. Era possível ver o caminho das estrelas e as formas de galáxias perfeitamente, nas cores negras, azul, roxo, rosa e branco nos detalhes. Alguns planetas se exibiam próximos, bem mais próximos que a lua solitária que ele conhecia acordado.

Era do laranja ao amarelo as cores predominantes de todo o resto. Em primeiro momento, sentia-se deitado. Analisando um pouco a situação, notou-se em uma cama de pedra, totalmente lisa e retangular.

Estava frio, mas nenhum vento sobrava de lado algum. Tentou levantar-se, mas se sentiu preso. Pedra. Ele também era de pedra. Uma estatua. Nenhum músculo movia-se, e apenas o que conseguia mexer eram os próprios olhos. Olhos esses que somente conseguiam mirar para o céu, para o universo girando vagarosamente em cima de si, e com um pouco de concentração, observar com sua visão periférica o ambiente a sua volta. Um deserto de areia.

Uma presença então surge um pouco acima de onde a cabeça do seu corpo deitado estava a apontar. Com certa dificuldade, ele conseguiu reconhecer uma figura quadrúpede, que sua imaginação o fez definir como um camelo. Um camelo com uma mascara de ferro. Um camelo com uma mascara de ferro, e com bolsas de viagem penduradas nas suas laterais. Um camelo com uma mascara de ferro, com bolsas de viagem penduradas nas suas laterais, que o encarava fixamente.

O tempo então começa a acelerar. Nuvens vieram e se foram numa velocidade impressionante. Dia e noite, dia e noite. O tempo voltou a sua velocidade normal, e durante todo tempo, o camelo permaneceu ali o observando com um ar de quem esperava algo. Uma resposta para uma pergunta? Alguma atitude?

Decidiu então tentar observar um pouco mais o ambiente ao seu redor. Ao longe, ele pôde distinguir montanhas. Montanhas negras onde se conseguia ver perfeitamente suas formas e ondulações desenhadas no horizonte.

O camelo então começou a se agitar. O animal inquieto realmente parecia querer alguma coisa. Seria um convite para continuar a viagem? Mas não era possível! Ele era uma estatua no meio de um deserto aparentemente sem fim, com um universo ainda maior sobre suas cabeças!

A forma do camelo começou a se retorcer, virando uma bola de algo para ele indescritível. E do camelo que virou algo, surgiu em seguida então um cavalo. Um cavalo com a pelagem completamente negra, que relinchava alto e assustadoramente, e parecia bastante nervoso.

Um calafrio sentido em um lugar indecifrável, fez com que notasse algo: rachaduras. Seu corpo estava começando a rachar, e o cameloagoracavalo se agitava cada vez mais. As rachaduras tomaram conta de todo o seu corpo, que em um estralo, se desmanchou em muitas partes e pedaços sobre aquela cama dura de pedra.

O cameloagoracavalo tornou-se roxo. Um terceiro olho em meio a testa então surgiu, o tornando uma espécie de demônio. No horizonte materializou-se uma figura encapuzada completamente negra. Sem rosto aparentemente. Com um sinal sonoro, o encapuzado chamou a atenção do cavaloantescameloagorademônio, que disparou na direção do mesmo, deixando então ele ali, só, em pedaços, em cima daquela cama lisa de pedra. Cavaloantescameloagorademônio e homem encapuzado, lado a lado, partiram em direção as montanhas negras do horizonte amarelo-alaranjado, sumindo depois de um tempo atrás de altas dunas de areia.

Aos poucos, a cama de pedra também começou a rachar, e quebrou. Cama e corpo já se misturavam em pedregulhos grandes e pequenos e já não se podia mais diferenciar o que era ele, e o que era cama. Aos poucos uma brisa leve foi levando a poeira em que os pedaços de pedra estavam se tornando, até que não sobrou mais nada.

Não. Até que sobrou apenas uma coisa: uma esfera. Que na verdade parecia em primeiro momento ser seu olho esquerdo, depois de ser o seu cérebro, mas uma rápida analise o fez com que acreditasse que era o seu olho direito.

Dentro da esfera, um universo girava. Ele foi então, em pensamento, transportado para dentro de tal esfera. O vento aumentou gradativamente, fazendo com que a areia do solitário deserto começasse aos poucos a cobrir a esfera, até que a mesma foi completamente soterrada. E esquecida.

Para sempre.

***


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